A longa viagem de Vasco da Gama durou um ano, a minha (de montar Os Lusíadas) já passou de quinze anos, mas finalmente vislumbro os mares nunca dantes navegados.
É grande a minha alegria a cada ensaio aberto quando vejo que as pessoas entendem e gostam do que estou fazendo. A obra de Camões é grandiosa, maravilhosa e merece o esforço que fiz e a paciência que tive. Agora, com a colaboração de Angelah Dantas, vejo que a encenação chega ao seu aprimoramento e está próximo o momento de mostrá-la ao grande público.
As duas fotos são de meu amigo William Brasil. O espaço em que foi apresentado esse ensaio é do meu amigo Hélio Borges.
Que razões ou motivos justificariam atualmente uma montagem
da epopeia OS LUSÍADAS?
Em primeiro lugar pelo valor e qualidade desse texto que é
um marco importante na história da literatura em língua portuguesa.
Em segundo lugar, porque sua elevada qualidade criou um distanciamento que leva muitas
pessoas a evitarem a obra. Em função disso, venho há anos pensando em torná-la popular, em
fazer com que através do teatro as pessoas possam, ao menos, conhecer as belas
histórias, umas reais, outras fantasiosas, que ele nos conta: Inês de Castro, o
Velho do Restelo, Gigante Adamastor, a Ilha dos Amores.
Em terceiro lugar, porque se a pessoa prestar um pouco mais
de atenção aos versos de Camões, verá que hoje não estamos tão longe assim do
que ele ali nos mostra. Vou dar apenas dois exemplos:
- Essa ganância de ganhar dinheiro, de ter fama, é debatida e combatida pelas palavras do velho na partida do Gama: “Ó glória de mandar, ó vã cobiça desta vaidade a quem chamamos Fama! Que castigo tamanho e que justiça fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, que crueldades neles experimentas! . . . Chamam-te Fama e Glória soberana, nomes com que o povo tolo se engana!”
- Essa insegurança em que vivemos hoje, com medo da violência, essa depressão pela vida mais de obrigações do que de prazeres, atividades tediosas a que somos constrangidos e a tristeza de ser enganados pelos políticos, banqueiros, pelos detentores do poder político e econômico. Tudo isso você pode deparar, subitamente, numa fala do navegador Vasco da Gama: “Ó grandes e gravíssimos perigos, Ó caminho de vida nunca certo, que aonde a gente põe a esperança tenha a vida tão pouca segurança! No mar tanta tormenta e tanto dano, tantas vezes a morte apercebida! Na terra tanta guerra, tanto engano, tanta necessidade aborrecida! Onde pode acolher-se um fraco humano, onde terá segura a curta vida, que não se arme e se indigne o Céu sereno contra um bicho da terra tão pequeno?”
Veja no Youtube: A velha se despedindo do filho
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