Em minha adaptação da obra Os Lusíadas para teatro simplifiquei a seguinte estrofe, mas não podia deixar de colocar esta lição que nos dá o pai da epopeia portuguesa:
E com rogo e palavras amorosas,
Que é um mando nos reis que a mais obriga,
Me disse: "As cousas árduas e lustrosas
Se alcançam com trabalho e com fadiga;
Faz as pessoas altas e famosas
A vida que se perde e que periga,
Que, quando ao medo infame não se rende,
Então, se menos dura, mais se estende."
É o rei de Portugal, Dom Manuel, que assim se dirige a Vasco da Gama, quando decide enviá-lo em busca do caminho marítimo para a Índia. Claro, as coisas importantes não são fáceis de serem alcançadas, mas vale mais a pena lutar por elas do que ficar colhendo migalhas como os pombos nas ruas. Isso me tocou profundamente porque tenho observado muita gente procurando só facilidades e evitando lutar pelo trabalhoso. Esse meu sonho de encenar e apresentar Os Lusíadas como monólogo tem provocado muitos comentários desanimadores de alguns amigos: "Você é louco! Ninguém vai querer ver isso!" Essa frase, com algumas variações, é o que mais tenho ouvido. Posso até não conseguir, mas vou repetir o que já disse a um filho meu, arrependo-me do que não ousei, do que não tentei, mas me orgulho de tudo que procurei fazer e não consegui resultado satisfatório. Pelo menos eu tentei. Vou usar a linguagem escatológica e desbocada de um amigo meu, quando topava com alguém que fugia à luta renhida pela vida: "Quer moleza? Caga e senta em cima!"